quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Contando historias pra criancas

Tou trabalhando num livro infantil. Um livro explorando conceitos elementares de  fisica (como a lei da gravidade), curiosidade intelectual e ousadia. Nao tem jeito, todas minhas referencias estao em Tamboril, entao o cenario sao lugares e pessoas que, pelo menos os mais velhos reconhecerao. Aqui esta a primeira parte do livro... as ilustracoes estao a caminho.

Zé Cazuza

Zé Cazuza, o corujãozinho, nasceu e se criou em Tamboril.
Num tempo em que nada, ou quase nada, acontecia.
Zé Cazuza era curioso, vivia pesquisando.
Gostava de aprender mas, morria de medo de voar e vivia com medo de cair.
Com medo de ter medo, Zé Cazuza pesquisou no seu diário mais antigo.
- Quando foi o dia em que aprendi a ficar com medo?
Foi num dia qualquer de sua infância.
Uma quarta-feira, por volta das 9:45 da manhã.
Enquanto sua mãe Coruja Calô lavava roupas no Pedrical, o corujãozinho cavava cacimbas na areia e admirava o vento balançando a cabeleira verde dos coqueiros.
Passava o tempo e matava o tédio calculando os litros d'agua caindo da cachoeirinha de pedra, cimento e cal construída, há muito tempo, pelos escravos da região.
Às 9:45 minutos, quando acabava de cavar a vigésima quinta cacimba, um côco caiu do coqueiro há dois palmos de Zé Cazuza.
Ele deu um pinote pra direita, olhou pra cima do coqueiro e achou melhor ir cavar cacimbas noutro lugar.
- Ainda tem uma dúzia de côcos pra cair.
Assustado, Zé Cazuza olhou pra água despencando da cachoeirinha do Pedrical, olhou de novo pro topo do coqueiro... mais uma vez pra cachoeirinha...
- Huuuuuum! Tudo que cai, cai pra baixo!
Experimentou jogar umas pedras pra cima, mas não tinha jeito, as pedras sempre caíam pra baixo acertando seu cocurutinho de coruja.
Foi ali que o medo chegou e o pinote, com o medo do côco, foi o vôo mais alto que o corujãozinho vôou.
- Se ao menos as coisas caíssem pra cima, pensou, ninguém se machucaria.

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